quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Arriscar

Não apenas uma vez tentei em vão cessar uma dúvida:
O que diferencia uma escolha certa de uma escolha errada? E ainda, qual o parâmetro para tal julgamento?

Talvez o ideal fosse que tivéssemos várias vidas, como no vídeo game... Aliás, acho que só duas tava bom. Daí a primeira seria um espécie de teste e na segunda, quando porventura insistíssemos em tomar as mesmas decisões que não deram muito certo na vida anterior, um alarme ensurdecedor tocaria no nosso ouvido, fazendo com que as ondas se propagassem por todo o corpo anestesiando-nos e impedindo-nos de continuar no erro.

Ou então, quem sabe o ideal mesmo fosse que cada dúvida de nossa vida se materializasse em duas estradas paralelas e que levassem a caminhos antagônicos, e que toda vez em que nos encontrássemos diante delas o nosso corpo se dividisse também em dois e que cada um pudesse seguir por um dos caminhos.
Assim, ultrapassando este momento de dúvida, quando a estrada finalmente se convergisse novamente em uma só, os dois corpos se encontrariam e decidiriam qual o caminho, qual a decisão foi a correta.
Seria perfeito não?

Não, não seria. Não só pelos absurdos dessas metáforas... Mas já pensaram se os corpos ao fim da “estrada da dúvida” não quisessem voltar a ser um só? E se eles quisessem, digamos assim, declarar sua independência? É, isso também parece absurdo.

No entanto, não pareceria (tão) absurdo se ao passarem por essa dupla estrada e chegassem ao momento de julgar suas experiências, cada um dos corpos decidisse que a sua foi a mais correta, a mais benéfica, a melhor escolha... Ou que os dois achassem que sua experiência foi a pior, a mais dolorosa e quisessem refazer o percurso, sendo que cada uma na estrada oposta...







E é aí que voltamos ao ponto de partida: qual o parâmetro para julgar uma escolha?

Milan Kundera escreveu extraordinariamente sobre isso em sua obra “A insustentável leveza do ser” no trecho que diz:

“ (...) Torturava-se com recriminações, mas terminou por se persuadir de que no fundo era normal que não soubesse o que queria:
Nunca se pode saber o que se deve querer, pois só se tem uma vida e não se pode nem compará-la com as vidas anteriores nem corrigi-la nas vidas posteriores. (...)
Não existe meio de verificar qual a decisão acertada pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem comparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado (...) einmal ist keinmal, uma vez não conta, uma vez é nunca. Poder viver uma vida é como não viver nunca.”

Diante desse pensamento e de convicções que tinha mesmo antes de ler sobre isso, defendo que a palavra escolha não pode ser suscetível de adjetivações ou divisões oscilantes de certo e errado.
Não acredito na existência de escolhas certas ou erradas, mas sim do caminho que você decide percorrer e as conseqüências que isso vai gerar para você e para tudo que está a sua volta. É a tal da Lei da Causa e Efeito.
Mas viver uma vez não é viver nunca. Disso peço licença a Kundera para discordar...

Penso que viver uma vez é ter a chance de tentar fazer, na medida de nossas limitações particulares, sempre o melhor que se pode. Se tivéssemos realmente a certeza de que vivemos uma outra vida e a consciência de tudo o que passamos nela, haveriam tantas lembranças e experiências gravadas na nossa mente que nos seria negado um dos maiores prazeres de nossa breve existência, que é poder de arriscar.





Há quem discorde, mas arriscar é necessário. Mergulhar no abismo do desconhecido tem sim seus riscos (e admito que são muitos) mas esse perigo também traz emoção, liberdade, e por que não, realização?
A magia que existe no desconhecido só é camuflada por causa da hipótese do erro, que possui por essência uma beleza que pode ser comparada à de uma pedra preciosa, daquelas que precisam ser lapidadas, mas que com paciência e percepção pode ser enxergada. E como eu já disse que aqui, acredito que o erro é meramente uma ilusão de ótica. Temos que ter em mente que as vezes um caminho tortuoso pode levar ao mais perfeito paraíso.

E olha, pra mim é esse o grande motivo pra que mesmo que tenhamos vivido mil vidas, e ainda que possamos viver mais mil, isso é retirado de nossa memória: para que sempre pensemos que estamos vivendo a primeira e única vida; para que não percamos a capacidade arriscar; para que possamos aprender não apenas através dos clichês dos “erros e acertos”, mas sim através de nossa sensibilidade; para que percebamos que o mais importante não é o caminho que se percorre, mas o porquê se percorre; para que continuemos mergulhando pela esperança de decifrar o desconhecido.. ou talvez apenas pelo prazer de mergulhar!





“ Um século, três,
se as vidas atrás
são parte de nós.

E como será? "




5 comentários:

  1. "Há quem discorde, mas arriscar é necessário. Mergulhar no abismo do desconhecido tem sim seus riscos (e admito que são muitos) mas esse perigo também traz emoção, liberdade, e por que não, realização?"

    Arriscar é preciso.
    Gostei muito do texto.
    "Escolhas erradas" será que existe mesmo erro ou acerto?
    Os caminhos mais difíceis nos levam aos melhores lugares.
    :)

    ResponderExcluir
  2. Se separássemos de nosso corpo íamos ver que se cada um escolheu um caminho diferente, talvez íamos ser a mesma pessoa com jeitos e experiências totalmente diferentes. A suas escolhas fazem você!

    ResponderExcluir
  3. Querendo ou não quando a dúvida nos salta a cabeça, é que devemos pensar em quem realmente somos e o que queremos. A duvida é uma incerteza, mas nos traz uma certeza, a de que temos personalidade e somos seres pensantes..
    Se não o fosse, ou ficariamos apenas perplexo diante da dúvida sem chegar a lugar algum..

    te achei aquii, e to te seguindo ja!
    beeeijo ;*

    ResponderExcluir
  4. eita minha miroca é meu orgulho mesmo ; definitivamente, talvez duas estradas por um momento fosse uma boa sugestão mas como nós somos seres pensantes (como diz meu amigo aí em cima) entendemos que de cada erro se faz um acerto e que por fim não existem escolhas certas ou erradas e sim talvez, as tomadas de forma e no momento errado. ;***

    ResponderExcluir
  5. Aiuaheiuhiae. Faremos um acoro: Te empresto mais livros e tu escreve mais.
    =*

    ResponderExcluir