quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Os ursos, as estrelas e o mistério da pluraridade do ser





Olhou para o céu e para o relógio. Fechou os olhos e respirou fundo aquele ar de quase noite. Lembrou de uma música que dizia qualquer coisa como "você às seis e trinta..." Sorriu. A lua já aparecia no céu.. Mas cadê as estrelas? Era delas que estava à procura hoje.
Era ainda uma menina sem muita experiência mas gostava muito de pensar nas coisas, principalmente nas sem sentido. Sempre achou graça daquelas pessoas que batiam no peito dizendo ter personalidade ou opinião formada pra tudo. Não sabia como conviver com elas. A única coisa que batia em seu peito não dependia da sua vontade, e ela nunca tinha certeza de nada...
Pensou nos ursos polares que precisam se confundir com a neve para sobreviver e para isso tentam a qualquer custo camuflar os seus fucinhos negros... O homem também é assim. Como pode dizer que tem uma personalidade?
Não, não é aquilo de "tentar sempre se encaixar nos padrões", é coisa de dentro mesmo, de essência. Não mostramos o que somos porque realmente não o sabemos.
Talvez pela mudança que é constante e de lei... Pelas RPM (ou revoluções por minuto) mas somos apenas uma imagem imperfeita de nós mesmos.
 Nos mostramos através de rótulos e nos comportamos de diferentes maneiras quando submetidos a um meio: na família somos filhos, na escola alunos, com os amigos o palhaço, o sério, o antipático... Representamo-nos o tempo inteiro e nem sabemos ao certo o que isso significa, ou onde isso vai nos levar.
"E como confiar em alguém se não sei nem quem eu sou?"
Levantou uma das sobrancelhas. As vezes se odiava por pensar tanto.
Suspirou. Prezava muito valores como sinceridade, transparência e desejou do fundo da alma entender esse mistério.
Ficou ainda alguns segundos com os olhos fechados, refletindo... Mas terminou por se convencer isso que isso tudo não era falta de transparência ou sinceridade
Os papéis que representamos são todos partes de nós, somos vários e somos tudo o tempo todo. Somos resquísios de nós mesmos em metamorfose ambulante, como dizia Raul.
Se não conseguimos fazer explodir pra fora dos contornos do nosso ser a nossa verdadeira essência, se somos metade realidade e metade ilusão de ótica, isso não é um mal (ou bem) exclusivo do bicho-homem. Lembrou-se então dos ursos polares...
Abriu os olhos e contemplou de novo o céu. Dessa vez conseguiu enxergar as estrelas...
"Até o céu se mostra sob um véu de ilusão: umas estrelas estão tão longe que, quando chega a luz aqui, elas já nem existem."
E sorriu de novo. É, nem o céu é completamente verdadeiro.

Um comentário:

  1. Nossa que post lindo!
    "somos apenas uma imagem imperfeita de nós mesmos". Adorei essa frase! Mas acho que a gente não se conhece porque tem tanta coisa pra fazer, que nos deixamos pra trás. Estranho né ? A gente se deixar pra trás. Enfim, mas é a era que estamos.
    "somos vários e somos tudo o tempo todo" concordo plenamente, acho que mudamos muito, e até isso dificulta o auto conhecimento.
    Adorei o post, se eu não estava seguindo agora estou ;)

    ResponderExcluir